21 março 2011

Crianças e Yoga, feitos um para o outro


A Tetê, minha filha de 4, está praticando yoga. É verdade que ela praticou desde a barriga, já que eu fazia aula pra gestantes com a Fadynha, no Instituto Aurora, no Rio. Mas aí ela nasceu, me viu praticando um dia ou outro em casa e começou a se interessar. Na comemoração da escola do aniversário dela de 3 anos, como a turminha estava estudando os animais e seus movimentos, resolvi que a “atração” da festa seria uma aula de yoga, ministrada pelas meninas do yogando. Que sucesso! Quinze mini pessoinhas totalmente entregues, fazendo a postura da árvore, do gato, da cobra. No final, a lembrança era uma dessas almofadinhas cheirosas pra colocar nos olhos e lá foram elas para o relaxamento, yoganidra (foto). As crianças adoraram! Nesse mesmo aniversário, Tetê ganhou de uma amiguinha o livro da professora Celeste, Rata Yoga (Ed. Evoluir), onde uma ratinha faz as posturas, que são descritas em forma de versinhos. Uma graça! Lá vai Tetê ficar imitando todas as posições, me chamando pra praticar junto. Na sequencia, ganhou da madrinha (Luciana Guerin, uma super professora de yoga) outro livro muito legal, chamado Meu pai é um pretzel, Yoga para pais e filhos, de Baron Baptiste (Ed. Girafinha). Como ela estava ficando muito interessada na prática, achei que era hora de colocá-la numa aula. Há quase um ano ela pratica, duas vezes por semana, na Eco Fit. Desde então, aprendeu muitas posturas, e o mais importante, está trazendo a filosofia do Yoga para a vida. Adora cumprimentar as pessoas juntando as mãozinhas e falando namastê e outro dia me falava sobre ahimsa, a não violência: “Mamãe, não podemos pisar nas formiguinhas nem brigar com os amigos, né?”. O coração da mãe quase transborda de orgulho.
Sou absolutamente convencida dos benefícios da prática do yoga desde a mais tenra idade, mas para tirar eventuais dúvidas, conversei com a Luciana Perez, instrutora da Tetê.

Maria Flor: A partir de que idade é indicada a prática de Yoga?
Luciana Perez: Hoje em dia temos uma gama de aulas para qualquer idade, Baby Yoga (0 á 3 anos), Yoga Kids ( 3 á 6 anos), etc. Sabemos que a prática de atividade física é natural na infância, andar, correr, pular, saltar, esticar. As crianças possuem também um ótimo sentido visual e auditivo, uma energia considerável e o dom precioso da sua ilimitada imaginação. Então podem começar desde cedo, com aulas adequadas para cada faixa etária.

MF: Quais os benefícios que a prática traz para elas?
LP: vivemos em uma sociedade em que as crianças estão sujeitas a uma estimulação excessiva, própria da vida moderna. Horários demasiadamente preenchidos, pressão e competição escolar, são fatores que contribuem para aumentar a ansiedade, dispersão, falta de atenção e concentração. O principal objetivo do yoga é a melhora da qualidade de vida futura destas crianças. A evidência mostra que a prática regular do Yoga mantém as crianças saudáveis porque fortalece seu sistema imunológico e proporciona o funcionamento perfeito de músculos, órgãos e glândulas. Também as ajuda a desenvolver um corpo forte e flexível, trabalhando equilíbrio, coordenação, concentração. Para alcançar esses objetivos, todas as técnicas do Yoga são passadas para as crianças de forma lúdica, o que confere um estimulo maior para praticar. Em nossa vida estressante e barulhenta, vamos ensinar a criança a relaxar e como se concentrar e acalmar. Acima de tudo, é uma forma de atividade “física” gentil, não competitiva e que todas as crianças curtem.

MF: Durante a aula é possível ir passando os preceitos do Yoga (como não violência, verdade, contentamento), além da parte física?
LP: Yoga é uma filosofia de vida, um novo caminho. A cada aula as crianças também travam contato com a ética do Yoga (yamas e nyamas). Sabemos que trabalhar com crianças exige muito mais que uma boa aula unida a uma boa técnica. Exige do instrutor o poder de persuasão, agilidade, criatividade, dinamismo, paciência, amor e compreensão. Sentir a real necessidade de cada um. Dever fundamental dentro deste trabalho é prepará-los para enfrentar o mundo com confiança e amor, crescendo saudáveis e felizes. Dando-lhes a oportunidade de conhecer e praticar uma filosofia milenar, assim como outras crianças que praticam ballet, judô, piano, etc., poderão sem misticismo ou religião vivenciar algo fantástico e motivador.

Se você ficou com vontade de saber mais, é só escrever para a Luciana, no email lu_perez@uol.com.br que ela responderá com prazer às suas dúvidas.

Namastê e boa semana para todos!

10 março 2011

Comida afetiva

Não sei se já contei aqui que estou fazendo um curso de escrita criativa, sobre comida e literatura, dois temas que adoro. Hoje, fizemos um exercício na aula sobre memória, sentimento e comida. Fui resgatar lá na minha infância um mingau de aveia que meu pai preparava, nos cafés da manhã de domingo. Incrível como lembrar de um prato pode despertar tantas sensações. Me deu saudade de um tempo que não volta, dos meus irmãos pequenos, da casa que não é mais nossa... Compartilho com vocês o curto texto que escrevi e gostaria de saber quais são as suas comidas afetivas lá da meninice. Me contem, sou toda ouvidos!

Mingau de aveia confortante

Depois que papai e mamãe se separaram, passávamos com ele fins de semana alternados. Eram fartos os cafés da manhã na casa do papai. Filho de mãe judia, preparava uma grande quantidade de comida e aí de quem não comesse tudo. A saber: suco de laranja, café com leite, ovo mexido, pão com queijo e o mingau de aveia. Quem pensa que torcíamos o nariz para essa última parte se engana. Apesar de já estarmos empanzinados, o mingau era o gran finale. Lembro bem de ver meu gordo, mexendo a panela e cantando, com voz bonita, mas meio desafinado. Colocava o leite, a aveia e um pouquinho de açúcar e mexia até engrossar. A mistura só ganhava cheiro quando chegava a mesa. Seu Silvio pegava o frasco de canela e polvilhava com todo o cuidado a inicial da cada um. Eu, com nome composto, ganhava duas letras da especiaria: M e F. Na hora de comer, passava instruções: comecem pela beirada pra não queimar a língua.
Há dois anos voltou pra Recife, sua terra natal. Não há meio mais eficiente de lembrar do meu querido. É fechar os olhos e sentir o cheiro da canela, preparar a língua para receber o creme quente, com a textura dos flocos da aveia, doce no ponto certo. O calor do estômago se espalha por todo o corpo de maneira confortante.