10 março 2011

Comida afetiva

Não sei se já contei aqui que estou fazendo um curso de escrita criativa, sobre comida e literatura, dois temas que adoro. Hoje, fizemos um exercício na aula sobre memória, sentimento e comida. Fui resgatar lá na minha infância um mingau de aveia que meu pai preparava, nos cafés da manhã de domingo. Incrível como lembrar de um prato pode despertar tantas sensações. Me deu saudade de um tempo que não volta, dos meus irmãos pequenos, da casa que não é mais nossa... Compartilho com vocês o curto texto que escrevi e gostaria de saber quais são as suas comidas afetivas lá da meninice. Me contem, sou toda ouvidos!

Mingau de aveia confortante

Depois que papai e mamãe se separaram, passávamos com ele fins de semana alternados. Eram fartos os cafés da manhã na casa do papai. Filho de mãe judia, preparava uma grande quantidade de comida e aí de quem não comesse tudo. A saber: suco de laranja, café com leite, ovo mexido, pão com queijo e o mingau de aveia. Quem pensa que torcíamos o nariz para essa última parte se engana. Apesar de já estarmos empanzinados, o mingau era o gran finale. Lembro bem de ver meu gordo, mexendo a panela e cantando, com voz bonita, mas meio desafinado. Colocava o leite, a aveia e um pouquinho de açúcar e mexia até engrossar. A mistura só ganhava cheiro quando chegava a mesa. Seu Silvio pegava o frasco de canela e polvilhava com todo o cuidado a inicial da cada um. Eu, com nome composto, ganhava duas letras da especiaria: M e F. Na hora de comer, passava instruções: comecem pela beirada pra não queimar a língua.
Há dois anos voltou pra Recife, sua terra natal. Não há meio mais eficiente de lembrar do meu querido. É fechar os olhos e sentir o cheiro da canela, preparar a língua para receber o creme quente, com a textura dos flocos da aveia, doce no ponto certo. O calor do estômago se espalha por todo o corpo de maneira confortante.

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